Documentário “Mario Wallace Simonsen, entre a memória e a história” restaura a vida e a trajetória de um dos maiores empreendedores nacionais, destruído pela ditadura militar

Cineasta Ricardo Pinto e Silva ouviu parentes e rivais do personagem, além de ex-funcionários, historiadores, pesquisadores e jornalistas; o filme, que apresenta imagens inéditas, estreia nos catálogos de plataformas digitais

 

O legado de um dos mais importantes empreendedores da História nacional acaba de virar um documentário de longa-metragem. “Mario Wallace Simonsen, entre a memória e a história”, dirigido por Ricardo Pinto e Silva, é uma iniciativa inédita de transmitir ao público os fatos e eventos que tornaram o personagem-título um dos homens mais ricos do país nas décadas de 1950 e 1960, e também os que provocaram sua rápida derrocada econômica e morte, durante a ditadura militar. Com 110 minutos, a produção, que traz depoimentos e imagens de arquivo nunca antes vistos, acaba de ser lançada nas plataformas NOW, Looke, VivoPlay e OiPlay. Em junho, entrará também na grade do Canal Brasil.

“Tivemos o zelo e a responsabilidade de realizar uma pesquisa documental profunda e de ouvir os diversos lados”, destaca o cineasta. “O objetivo do filme é contribuir com o restabelecimento da verdade histórica sobre Simonsen, que foi difamado e intencionalmente apagado, e perpetuá-la para as atuais e próximas gerações”.

O documentário narra as origens de Simonsen e como ele construiu seu conglomerado de mais de 30 firmas, entre as quais figuraram a legendária companhia aérea Panair do Brasil, a vanguardista TV Excelsior, o Sirva-se (primeiro supermercado do Brasil), a Wasim (trading company com escritório em 53 países) e a Comal – Companhia Comercial Paulista de Café (maior player brasileira no setor, numa época em que o grão ainda respondia por dois terços das exportações nacionais).

Depois, a produção foca as investidas devastadoras e inacreditavelmente rápidas que derrubaram o empresário, logo após o Golpe civil-militar de 1964. Gigantes como a Panair e Comal foram simplesmente proibidas de funcionar e fechadas, sem aviso prévio ou direito de defesa. Com o patrimônio pessoal sequestrado, o próprio Simonsen faleceu, aos 56 anos – ele acabara de sofrer o trauma da morte da esposa e havia se autoexilado em Orgevall, na França. Ao investigar os motivos para essa perseguição, a equipe do filme chegou a conclusões perturbadoras, um dos destaques do roteiro.

Entre as fontes mais importantes consta a filha do personagem, Marylou Simonsen, que nunca havia falado sobre esse assunto com profundidade. “Eu e meus irmãos sofremos bastante quando tudo aconteceu. Na época, era muito jovem e fiquei revoltada. Mas, com o passar dos anos, percebi que nutrir aquele tipo de sentimento ia contra tudo o que meu pai me ensinou. A semente que ele nos transmitiu foi a do amor e, principalmente, o amor pelo Brasil”, diz Marylou. “Ele merecia esse reconhecimento. Eu sou muito grata a todos que participaram desse documentário. Além de fazer justiça ao meu pai, o filme serve também de alerta para que algo como aquilo nunca mais aconteça com ninguém”.

Para materializar o projeto, Pinto e Silva recrutou uma equipe especialista. O jornalista Daniel Leb Sasaki, autor do livro “Pouso forçado”, sobre a destruição da Panair, realizou as pesquisas, preparou as entrevistas e contribuiu no roteiro, ao lado do diretor. A fotografia é de M Teriya R, com quem o cineasta já trabalhara em outro longa, ficcional. A música original ficou a cargo de Ricardo Severo, que possui vasta experiência, tanto no audiovisual como no teatro.

O time vasculhou acervos, estudou milhares de documentos e entrevistou pessoas que conheceram o empresário, pessoal ou profissionalmente. Artistas como Tarcísio Meira, Glória Menezes e Bibi Ferreira, autores e executivos como Lauro César Muniz, Boni e Álvaro de Moya, por exemplo, ajudaram a contar a história da Excelsior. Rodolfo da Rocha Miranda, filho de Celso da Rocha Miranda, o sócio de Simonsen na Panair, também participou. “Era o negócio em que os dois investiram juntos. A Panair era a mais importante companhia aérea brasileira, com operações em quatro continentes, e dona de aeroportos, infraestrutura de telecomunicações aeronáuticas e da melhor oficina de revisão de motores. Papai e Seu Mario foram muito ousados: nacionalizaram totalmente aquele empreendimento, antes ligado à Pan Am, que dominava a aviação em todo o mundo”, conta. Ao todo, a equipe filmou 41 entrevistados.

Além de ser exibido on-demand por diversos dispositivos e na TV, “Mario Wallace Simonsen, entre a memória e a história”, terá futuramente uma versão em DVD. O início da comercialização será anunciado em breve.

Serviço:

Sinopse

Discreto neto de ingleses, Mario Wallace Simonsen (1909-1965) foi empresário e grande empreendedor. Dono de um conglomerado de mais de 30 empresas, destacando-se a companhia aérea Panair do Brasil, a Televisão Excelsior, a Comal, maior exportadora de café do país, e a Wasim, trading company, foi atingido pelo movimento de 31 de março de 1964, que instalou no poder pessoas que o tinham na conta de inimigo. Se o esforço da ditadura militar em destrui-lo é evidente, os motivos para isso são menos óbvios.

Ficha técnica

Categoria: Documentário de longa-metragem (110 minutos)
Direção: Ricardo Pinto e Silva
Argumento: Ricardo Pinto e Silva e Cristina de Luca Silveira
Roteiro, pesquisa e entrevistas: Ricardo Pinto e Silva e Daniel Leb Sasaki
Fotografia: M Teriya R
Produção executiva: Ricardo Pinto e Silva e Karen Ewel
Montagem: Aline Nunes, Vanessa Iutaka e Alexandre Melo
Música: Ricardo Severo
Ator das dramatizações: Bruno Perillo
Declamação de poemas/canção: Rubens Caribé
Locução: Renato Godá
Distribuição: Bretz Filmes
Apoio: Teste de Audiência
Copatrocínio: Secretária Municipal de Cultura – Prefeitura do Município de São Paulo
Investimento: BNDES
Produção: Zabumba Audiovisual e Expressões Culturais
Classificação indicativa: 10 anos